Leitoras escritoras

25 de junho de 2013


Tenho chegado cada vez mais a conclusão de que a culpa é realmente minha, enquanto eu tento convencer que são os outros que não me entendem. Mas talvez seja eu quem não me explique direito. Ou nem me explico. Me reservo, me guardo e me tranco toda vez que me sinto ameaçada sem perceber, talvez, que a grande ameaça sou eu. É que eu sou tão intensa que assusto e coloco todos para correr. E lá vou eu, doando-me inteira ainda que esteja em cacos porque já não tenho tempo e disposição para limpar cada bagunça de cada desilusão que me causam. E vou machucada, vou desgastada, vou desacreditada, até, mas vou.

Essa mania minha mesmo de exibir um sorriso sincero mesmo quando transbordo uma felicidade falsa. De tanto me fazer de forte ninguém leva a sério minhas quedas, porque já esperam que vou me levantar antes de chegar ao chão. E, verdadeiramente, me levanto quase sempre, mas isso não quer dizer que não seja a sério. A verdade é que nunca tive medo de cair e por isso quebro tanto a cara. E de tanto quebrar a cara fui ficando mais fria, mais dura, mais insensível. E de tão insensível, as pessoas pararam de crer que eu sinto, ou, quase sempre, se assustam com minha ausência de sentimentos.

Ninguém percebe que a falta de sentimento é só uma proteção contra machucados desnecessários. É que a vida foi me ensinando o que vale ou não sofrer; não me deixo doer por mais tempo do que é preciso porque adotei aquela velha frase “a dor é inevitável, o sofrimento é opcional” como lema de vida. Vida, essa, que já disse, não me cansa de me doer. Mas por trás da fortaleza, sorrisos acreditados, eu continuo aquela menina apavorada com o escuro e os bichos papões; apenas agora meu escuro não se resume a falta de luz e os bichos papões são mais do que monstros de armários. E por isso vou me doando e me doendo, me entregando e me perdendo, me assustando e assustando a todos que se arriscam a ir além da minha carcaça.

É, e entre amores perdidos, decepções declaradas e quedas desacreditadas, vou me convencendo de que o problema não é o outro porque o outro não tem nada a ver com o que se passa aqui dentro de mim. E não deixo que ninguém tenha mesmo a ver com a as dores que carrego. E em minha entrega sem reservas, ainda que cheia de reservas, vou percebendo que o problema na verdade talvez seja mesmo eu: que sou intensa para me entregar, me doar, e até para não sentir.

Texto enviado pela leitora Fernanda Campos do blog Uma dose de café.

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4 comentários:

  1. Olá, muito bom seu blog! Será que pode fazer uma visitinha no meu http://becaamonteiro.blogspot.com.br/ . Estou começando agora, se puder seguir, ficarei muito feliz. Obrigado!

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  2. Nossa, esse texto chega a doer... de triste, sabe? :( mas é lindo, muito bem escrito. Uma tristeza transformada em arte... acho isso
    http://ceudeoutubro.blogspot.com.br/

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  3. Que bom que você gostou Julia >.<
    Volte sempre.
    Beijos.

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  4. Sem mentira nenhuma: me descreveu. Porque sou assim. Me detalhou tim tim por tim tim... escrita linda, leve, sincera. Impossível não amar!

    vivapaulatinamente.blogspot.com.br

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